Quem somos

 

Roubaram nossa classe, nossa organização, nossa história; levaram nossa gente, nossos sonhos, nosso nome; fizeram neblina do nosso céu, rachaduras em nosso chão, histeria de nossa voz: dez anos de Partido dos Trabalhadores no governo federal e as migalhas brigam entre si: o balanço do período é de um tempo filho da cooptação, burocratização e institucionalização das lutas; um tempo em que as organizações coletivas cada vez dão respostas mais insuficientes e até mesmo farsantes à conjuntura posta.

Chegamos ao fim do século XX com os 20% mais ricos do planeta possuindo 82% da riqueza mundial; os 20% mais pobres, em contraposição, possuem apenas 1%. Os 447 maiores bilionários detém a mesma riqueza que quase a metade do planeta, três bilhões de pessoas; 200 multinacionais detém 28% do valor do mundo, mas empregam apenas 1% da força de trabalho. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, há um bilhão de desempregados ou subempregados no mundo, o que corresponde a 30% da força de trabalho mundial. Parece natural, mas não é.

O capitalismo atingiu sua capacidade civilizatória e hoje produz alimento suficiente para sobrevivência de 11 bilhões de pessoas. Ainda assim, dados da FAO/ONU indicam 852 milhões de pessoas que sofrem de fome crônica. A lógica material da nossa sociedade é a do capital: de produção e reprodução de exploração e opressões, sem receio de fazer da guerra, da fome, da destruição da natureza, da falta de moradia, terra, saúde e educação não apenas uma realidade, mas uma necessidade que se repete e se aprofunda. Parece impossível de mudar, mas também não é.

A violência, a exploração, o individualismo e a desconfiança com organizações coletivas foram construídas no nosso passado recente. Nossa falta de memória em relação às lutas sociais e suas estratégias em nossa país e no mundo não é ocasional nem consequente: o estado de exceção que se instaura com a Copa do Mundo, as remoções forçadas, o desvio do público pro privado, os cortes em gastos sociais, como saúde e educação, bem como as propostas de flexibilização e mesmo retirada dos direitos trabalhistas, como no caso da greve e do Acordo Coletivo Especial, demonstram que nossa fragilidade não é mais apenas inércia, mas derrota histórica da classe trabalhadora e de todxs excluídxs!

Uma resposta possível a esse panorama é “mediar” com a despolitização dos estudantes e da juventude, rebaixar a crítica ao que seja “bonitinho”, “engraçado”, “atrativo”, “leve” e quase pós-moderno-sedutor-apaixonante, evitando criticar em profundidade a realidade material que nos cerca, nomear nossos adversários e inimigos e realizar a autocrítica dos vícios históricos da esquerda.

Uma outra resposta possível é isolar-se de todos os movimentos e dos estudantes, autoproclamar-se como o que há de mais avançado, “puro”, sem contradições, como que fora do seu próprio tempo histórico, aguardando fechado, em pequenos grupos isolados, pelo momento revolucionário, quando então “a direção virá e comandará as massas”.

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Rejeitamos ambas respostas e qualquer tipo de idealismo sobre nossa capacidade atual de sermos suficientes à conjuntura. Não é nossa vontade, mas a realidade material, de acirramento das contradições objetivas, que nos clama por um balanço da nossa situação organizativa e por uma retomada crítica do colocar-se em processo de construção de alternativas!

É tempo de se des-fazer do passado, terminar, romper, re-começar! Nós, militantes em maioria oriundos do Coletivo Nacional Barricadas Abrem Caminhos, não negamos nossa história, mas propomos sua superação. Que leve em consideração as experiências recentes do Fórum Nacional de Lutas Contra a Reforma Universitária, das dezenas de ocupações de reitoria, do Seminário de Uberlândia, do Comando Nacional de Greve Estudantil, das greves da educação, dos Fóruns Nacionais de Executivas e Federações de Curso, dos encontros de área, das pautas da formação profissional, da ligação entre universidade e mundo do trabalho, do combate às opressões, entre outras, para re-colocarmos os problemas que nos fazem estar em movimento!

As organizações coletivas do último período forjaram-se como barros, moldáveis à existência individual e aos anseios daquelxs que as protagonizaram. Com cuidado, dedicação e tantos outras boas intenções, centenas de estudantes depositaram energias em melhor moldar os coletivos de que participaram. Mas infelizmente, obra dada por terminada, muitxs se esqueceram que a organização não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para a transformação que esperamos no mundo.

 

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